segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Atividade 2 Galinha ao molho Pardo .(Fernando Sabino )

Galinha ao molho pardo – Fernando Sabino/ Atividade 2
A versão de Fernanda , A galinha
Olá, meu nome é Fernanda, e sou uma galinha e branca, um pouco obesa e  vou contar a minha história, que quase se tornava uma tragédia .
Ao chegar da escola, Fernando deu com a novidade: lá estava eu em seu quintal.
Morro em um quintal grande , mas lá não tem uma casa que todas as galinhas tem , essa casa chamamos de galinheiro , como quase toda casa de Belo Horizonte naquele tempo, tinha era uma porção de árvores. Pois foi no quintal que ele me viu, toda folgada, ciscando na caixa de areia, eu havia sido comprada por sua mãe para o almoço de domingo:
Dr. Junqueira ia almoçar na casa deles e ela resolveu me comprar e fazer com molho pardo.
Fernando já tinha visto a Alzira matar uma galinha, uma coisa horrível.
Agarrava pelo pescoço, agachava, apertava o corpo entre os joelhos, torcia com a mão esquerda a cabecinha assim para um lado, e com a direita, zapt! passava o facão afiado, abrindo um talho no gogó. O sangue esguichava longe. E ainda viva, estrebuchando nas mãos da malvada.
Como se fosse a coisa mais natural deste mundo, a Alzira contou a ele o que ia acontecer comigo.
Intrigado com a situação , resolve ume salvar.
Mesmo sabendo que o Dr. Junqueira era uma pessoa muito querida pela família e que o pai dele dependia dele para alguns negócios , o Dr. Iria comer de tudo mas de menos galinha ao molho pardo . Então ele me disse:
— Olá você chamará Fernanda .   
— Você sabe o que eles estão querendo fazer com você, Fernanda? disse ele, pois nem queira saber, cuidado com a Alzira, aquela magrela de pernas compridas, é a nossa cozinheira, ruim que só ela, estão querendo matar você para comer, com molho pardo.
Meus olhos piscaram de susto. O corpo estremeceu e ali mesmo, na hora, botei um ovo, de puro medo.
— Mas eu não vou deixar — disse, me tranquilizando, apanhando o ovo com cuidado, para enterrar na areia depois e ver se nascia pinto.
E acrescentou:
— Hoje não precisa de ter medo, que o perigo todo vai ser amanhã vou esconder você num lugar que ninguém é capaz de descobrir, a Maria lavadeira só volta na segunda-feira, antes disso ninguém irá mexer na bacia. Assim que escureceu, me escondeu debaixo dela, ficou com pena de me deixar ali sozinha, e perguntou:
— Você se importa de ficar ai debaixo até passar o perigo?
E fiz com a cabeça que não.
— Então fica bem quietinha e não canta nem cacareja nem nada. Principalmente se ouvir alguém andando aqui fora. Disse-me ele.
Fiz com a cabeça que sim, e ele novamente me disse:
— Amanhã, assim que puder eu volto, dorme bem, Fernanda.
Naquela noite, para que ninguém desconfiasse, jantou mais cedo e foi dormir.
Na manhã de domingo levantou bem cedo e veio dar uma espiada em mim, me encontrou mais morta do que viva debaixo da bacia.
Mais um pouco e nem ia ser preciso a Alzira usar o facão, água era fácil, me trouxe um pouco numa tigelinha, despejou pelo bico adentro e me reanimei.
Mas como arranjar comida sem chamar a atenção de ninguém? Ainda não tinham notado minha falta, nem mesmo pensado em trazer alguma coisa para que eu pudesse comer. Que diferença fazia? Se eu ia ser comida naquele dia mesmo?
O jeito foi furtar um pouco do milho do Godofredo, no que Fernando tirou o milho, ele disparou a berrar:
— Socorro! Socorro! Pega ladrão!
O diabo do papagaio não gostava dele, e ele dizia:
— Cala a boca, Godofredo.
— Cala a boca já morreu! Quem manda aqui sou eu! Retrucava Godofredo.
Fernando jogou na cara dele o resto da água da tigelinha:
— Toma, seu desgraçado, para você aprender. Disse Fernando.
— Socorro! Socorro! Pega ladrão! — continuava berrando, batendo as asas.
Tamanho foi o escarcéu que o Godofredo aprontou, que acabou caindo do poleiro e ficou dependurado pelo pé, foi o tempo de Fernando me esconder debaixo da bacia e se escafeder correndo pelo porão adentro.
A Alzira já batia os chinelos escada abaixo com suas pernas compridas, faca na mão, à minha procura.
— Que é que esse bicho tem? Não fala nada que presta e de repente destampa essa gritaria toda! Que é que você quer, coisa ruim? Quem é que é ladrão? Disse Alzira.
— Sua galinha! Sua galinha! Respondeu Godofredo.
— Galinha é você! Galinha verde! Por falar nisso, onde é que se meteu a galinha? Indagou Alzira.
— Na bacia! Na bacia! Continuou gritando Godofredo.
Além do mais, era delator, o miserável. Dedo-duro, traidor, entregava ao carrasco o seu próprio semelhante (ou quase).
— Uai, que é que você estava fazendo ali escondido, Fernando? Disse Alzira a Fernando.
— Nada não… Fernando lhe respondeu.
— Boa coisa é que não há de ser. Alguma esse menino anda arrumando, com esse ar de cachorro que quebrou a panela. Disse Alzira.
— Na bacia! Na bacia! — o Godofredo berrava.
— Cala essa boca, seu filhote de urubu! — Gritou Fernando.
— Na bacia! Na bacia! —insistia Godofredo.
— Que é que esse tagarela está falando? — perguntou Alzira.
— Está te chamando de nabacinha. Respondeu Fernando.
— Nabacinha? Que quer dizer isso? Novamente, perguntou Alzira.
— Quer dizer vagabunda. Lhe respondeu Fernando.
A Alzira arregalou os olhos, ergueu no ar o facão:
— Vagabunda? Está me chamando de vagabunda? Nabacinha é você, seu bicho ordinário! Não sei onde estou com a cabeça que não te corto o pescoço, asso no espeto e como, ouviu? E ainda chupo os ossinhos um por um! Por falar em comer: quede a galinha? Já está na hora de fazer o almoço, onde é que a galinha se meteu?
— Não sei… Fernando respondeu calmamente
— Você não estava brincando com ela ontem? Indagou Alzira.
— Isso foi ontem. Hoje eu não vi ela ainda, disse-lhe Fernando.
— Será que fugiu? Ou alguém roubou? Novamente, indagou Alzira.
— Vai ver que é por isso que esse nabacinho de uma figa estava gritando pega ladrão. Algum ladrão de galinha.
Fernando agarrou a ideia no ar, era a salvação:
— Isso mesmo! Ontem eu vi um homem correndo com alguma coisa debaixo do braço. Só podia ser agalinha. Disse Fernando com convicção.
Mas a Alzira continuava com ar de desconfiança:
E saiu pelo quintal, à minha procura, olhando aqui e ali.
Depois foi contar para a mãe de Fernando que eu havia sumido.
— E agora, como vai ser? Como é que ela foi sumir assim, sem mais nem menos? Indagou, preocupada a mãe de Fernando.
— Sei lá, respondeu Alzira:
— Não acredito que tenham roubado, como diz o Fernando, vai ver que saiu voando e pulou o muro, bem que eu pensei em cortar as asas dela e me esqueci, agora é tarde, a gente anda precisando mesmo é de cortar as asas desse menino.
— Está quase na hora do almoço, disse a mãe de Fernando:
— O Dr. Junqueira está para chegar de uma hora para outra, e como é que a gente vai fazer sem a galinha? O Domingos vai ficar aborrecido.
Dali a pouco era Domingos pai de Fernando é quem chegava da rua, trazendo o jornal de domingo debaixo do braço, quando lhe deram a triste notícia, para surpresa de Fernando e dela, ele não se aborreceu, e disse:
— Faz outra coisa. Macarrão, por exemplo. O Dr. Junqueira é bem capaz de gostar de macarrão.
E foi ler o jornal na varanda.
Filho de italiano, quem gostava de macarrão era ele, e da macarronada que a Alzira fazia todo mundo gostava.
 Pois o Dr. Junqueira não só gostou, como repetiu duas vezes, para grande satisfação da mãe de Fernando. Domingos, o pai, abriu uma garrafa de vinho daquelas de cestinha de palha, e os dois a esvaziaram, depois de dar um pouquinho para Fernando e seus irmãos, com água e açúcar.
Guardanapo enfiado no colarinho, o Dr. Junqueira limpou os bigodes, satisfeito, e disse:
— Ainda bem que era essa macarronada tão boa. Eu estava com medo que fosse galinha. Se tem uma coisa que eu detesto é galinha.

Principalmente ao molho pardo.

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